CIEN Goiás
15:16
Cien Brasil
RESSONÂNCIAS DO
CIEN EM GOIÁS
Ceres Lêda F F
Rubio
No dia 23 de
Fevereiro o CIEN deu o pontapé inicial para a abertura de um Laboratório
em Goiás, agora em formação, nomeado de “Entreoutros”. Para tanto,
preparou uma Conversação Interdisciplinar intitulada “Etiquetagem e
medicalização em crianças e adolescentes” tendo como pano de fundo a exibição
do filme “L’enfance sous controle”. Para animar a conversa esteve
presente a Psicanalista Ana Martha Maia (EBP/AMP), coordenadora do Laboratório
do CIEN-Rio “A criança entre a mãe e a mulher” e a Pedagoga Sylvana de Oliveira
Bernardi Noleto, professora da UEG e PUC-GO. Cerca de cinquenta pessoas
responderam ao convite para lá estarem, indicando a relevância do tema e o
interesse pelo trabalho.
Sylvana
coloca-se como aquela que falava de “fora” para dizer de sua posição, não sendo
psicanalista ao comentar sobre o filme, mas sendo leal a proposta do CIEN de
reunir disciplinas e poder ela dizer sobre o discurso que a sustenta na sua
prática dentro da Pedagogia.
Coloca-se
diante do documentário com uma crítica, questionando e nos fazendo lembrar que
o cineasta, ele próprio, ao elaborar a edição do filme recortou e incluiu muito
provavelmente aquilo que lhe pareceu mais importante, indicando que o resultado
do produto tem aí a marca de quem o construiu. O filme para ela questiona
o conceito de criança e de infância, que são diferentes, e lhe provocou
ao trazer um recorte do comportamento do indivíduo em detrimento de um contexto
de totalidade que a Pedagogia considera ao falar do sujeito humano. E isso
marca uma cisão entre o que apresenta o documentário e o que a Pedagogia pode
analisar sobre o comportamento de uma criança. Sylvana defende que se deve
considerar ao analisar o comportamento, o contexto histórico social
e familiar para além do biológico. O filme defendendo apenas motivos
biológicos para a violência e propondo soluções a partir do controle,
avaliações e normatizações do comportamento, sem considerar , segundo ela a hipótese
de que a violência é social, construída nas relações e das interações. Na
relação com o outro é que se exprime a violência. Acredita nisso, como também
que o processo de ensino aprendizagem se dá nas relações e é individualizada.
A Pedagoga na
sua prática de escola pública confirma que lá, também há uma tendência de
solicitar o diagnóstico e avaliação da criança para responder ao problema de
comportamento e aprendizado e, concomitantemente adoecendo-as, segregando-as ao
apontar os problemas sem se implicarem neles, a partir de uma impotência do
professor no ensino. Relaciona que há nessa problemática, políticas públicas
direcionadas que influenciam esse modo de funcionar do professor. Há uma
racionalização e uma falta de entendimento na Escola sobre qual é a forma e de
quem é a responsabilidade de resolver o problema. Um impasse!
O impasse aponta
para uma diferença do lugar da Pedagogia, implicada com sua visão de totalidade
do sujeito humano e o recorte parcial que se faz do indivíduo, na ciência, ao ofertar
seus recursos para resolver o problema do comportamento violento e
dificuldades na aprendizagem. Não se sabe sobre de quem é a responsabilidade na
solução dessa questão claramente complexa. E não se crê a solução
única a partir da avaliação, controle e a medicalização, para problemas
que indicam receber influência do meio social, familiar.
A discussão
avançou entre os participantes e cada um que se apresentou para falar concordou
que o impasse se organiza na impotência e impossibilidade. A impotência de se
estabelecer uma prevenção e controle da violência a partir de um contexto único
biológico, na impotência de um ensino idealizado que promete um aprendizado
também idealizado para as crianças e adolescentes. E a impossibilidade de
encontrar soluções definitivas, que seja pela ciência a partir da
medicalização
Ana Martha
contribuiu nessas discussões, e a partir de três exemplos de sua
prática no laboratório do CIEN-Rio, confirmou o impasse
apontado ao final na conversação e ainda esclarecendo na prática o modo
de intervenção e condução de um laboratório.
Uma delas foi à
experiência de uma atividade de laboratório ao atender a demanda de intervirem
na queixa de violência em uma escola. Na instituição, entram em contato com a
queixa de crianças que “não querem aprender a ler e escrever” e com problemas
de “interação e disciplina”, observam ainda a relação dos
profissionais da escola com determinados alunos.
Esses profissionais não demonstrando sensibilidade e acolhimento às
queixas desses outros, indicando já ali um tipo de “violência”
na relação. O laboratório apontou que havia um ponto de excesso e de um gozo
nas crianças que a escola não conseguia tratar, e, que os profissionais
não se implicavam na problemática da violência na escola.
Ao final com o
adiantado da hora, confirmou-se junto aos participantes o desejo de
alguns continuarem em um segundo tempo, a discussão sobre o que a
Conversação interdisciplinar apontou a respeito da temática proposta ao
elaborar o impasse.
Fechamos o evento
com o convite de seguirmos com o Laboratório Entreoutros, agora para um momento
de elaboração e ampliação das discussões resultadas da Conversação.